Não é surfar a onda, mas atravessar o oceano do Fiagro
Frase de Guilherme Grahl, associado da Valora Investimentos, celebra sucesso de 3ª emissão do Fiagro VGIA11 com captação - acima do esperado - de R$ 360 milhões
Desde o lançamento do Fundo de Investimentos das Cadeias Produtivas Agroindustriais – Fiagro – Valora CRA (VGIA11) em novembro de 2021, houve três emissões de cotas que alcançaram as metas de captação de capital.
Na oferta mais recente - concluída esta semana - o gestor Guilherme Grahl celebra a captação de R$ 360 milhões, enquanto a meta era de R$ 300 milhões no início da operação.
O sucesso revela a demanda cada vez maior dos investidores por cotas de Fiagros – fundos regulados pela CVM, a Comissão de Valores Mobiliários, apenas no ano passado, mas que vêm apresentando crescimento consistente e expressivo no número de investidores em 2022.
“O agro é um pouco descorrelacionado de Risco Brasil. Eu acho que isso explica [as emissões]. Tem a ver com confiança porque é um produto novo. A confiança vai aumentando de acordo com a consistência na gestão e no pagamento de rendimentos. A gente não está aqui para surfar a onda, mas atravessar o oceano do Fiagro”.
Grahl também atribui o sucesso dos Fiagros desde a regulamentação ao ‘pacote de benefícios’ que o instrumento financeiro oferece ao investidor.
“Quando a gente fazia operação de CRA antes, o cara tinha que ser, no mínimo, um investidor qualificado. Um ticket muito mais alto e concentrado. Com o Fiagro, hoje, ele pega integralmente esses papeis com estrutura. Corre o risco de maneira muito mais pulverizada, tem pagamento de rendimento mensal com isenção tributária, além de negociação e liquidez diárias na B3”.
Do lado que recebe os recursos deste investidor, os Fiagros permitem o financiamento de projetos com longos anos de dificuldades na obtenção de crédito junto a bancos privados e estatais.
“O agro está expandindo e precisa de recursos para financiá-lo. As fontes tradicionais – bancos estatais, Plano Safra – continuam sendo muito relevantes, mas não estão mais crescendo. Estão flat – termo em inglês que significa estável”.
VGIA11 e as operações proprietárias em CRA
Uma das características do VGIA11 é a carteira concentrada – com 90% - em CRAs proprietários, que são os Certificados de Recebíveis do Agronegócio originados pela própria gestora Valora.
“No último ano, a gente fez mais de R$ 1 bilhão de estruturação de CRA. Então, quando entrou o Fiagro, a gente já vinha bem tracionado”.
A cultura predominante na destinação do capital do fundo é a de grãos.
“É um pouco do reflexo do que é o agro no Brasil. É risco-retorno. A gente tem colocado mais [capital] em grãos por eu ter vindo da Cargill e o Humberto [Hardman, responsável pela área de Negócios e Finanças estruturadas da Valora] também. É a área que a gente mais domina e onde tem mais oportunidades e menos riscos”.
Apesar do foco, Grahl afirma que o VGIA11 busca diversificação geográfica e em atividades industriais do agro.
“A tendência é que [a carteira] fique cada vez mais pulverizada, mas seguindo esse direcionamento [em culturas de grãos]. Há também usina [sucroalcooleira] e a parte de proteína, a exemplo de aves e suínos, nichos que a gente entende ser mais tranquilos”.
Atualmente, as operações concentram-se, principalmente, nas regiões centro-oeste, sudeste e sul. E o financiamento vai, em geral, para cooperativas do agronegócio.
“Fora os bancos, os grandes pilares de financiamento do agro são as cooperativas, distribuidoras e tradings. O papel delas é muito importante dentro dessa dinâmica. Quando preciso mensurar o risco nessa cadeia, em vez de fazer diretamente com o produtor, prefiro uma cooperativa ou uma distribuidora porque consigo avaliar o risco de maneira mais eficiente”.
O gestor ainda afirma que direciona os investimentos para regiões brasileiras com cooperativas mais antigas e consolidadas.
“Não vou com cooperativas no norte do Mato Grosso porque são muito novas e têm poucos cooperados. Eu não pulverizo tanto o meu risco. A mais ‘novinha’ com quem atuo é sexagenária”, brinca.
Outra característica do VGIA11 são as operações de CRA de curto prazo, com média de 2 a 3 anos.
“A gente faz muito OPEX – despesas operacionais e com manutenção de equipamentos da empresa - e não CAPEX - despesas de capital ou investimentos em bens de capitais - exatamente por estar em CDI e não estar tão longo em termos de risco e prazo. Isso é importante também para dormir tranquilo”.
E, ao contrário de outros Fiagros, o fundo optou exclusivamente pelos CRA, abrindo mão de outros tipos de operações como os CRIs – Certificados de Recebíveis Imobiliários.
“Essa opção pelo CRA, do agro, traz o benefício fiscal do rendimento. A gente não tem por hábito colocar em imóvel, apenas como garantia e nunca como fonte primária de pagamento. A gente prefere garantias líquidas como contratos e CPRs – Cédulas do Produto Rural”.
Distribuições e desempenho na B3
O Valora CRA mantém uma certa regularidade na distribuição de dividendos aos cotistas desde o lançamento. A curva foi ascendente a partir de fevereiro de 2022, mas apresentou recuo de um centavo no último pagamento referente a setembro, que foi de R$ 0,16 por cota.
“A gente sempre se propôs a entregar ao investidor CDI + 3,5% a 4,5%. No entanto, quando eu aumento o PL – patrimônio líquido – essa missão fica um pouco mais difícil. A gente continua sendo o fundo que mais paga no mercado, mas essa é a dinâmica da receita adicional”.
Na bolsa brasileira, a cota do fundo oscilou ao longo de 2022, com meses em alta e outros em baixa, mas um saldo positivo de 4,10% no ano até o fechamento desta matéria.
“Sempre no pagamento do rendimento, tende a dar uma baixadinha [na cota negociada em bolsa]. E como está bem no começo, acho que tem um pouco do investidor se identificar com o valor das transações. Elas têm aumentado bastante, o que tende a ser um fator estabilizador para o valor da cota. O investidor também vai se educando e vendo a dinâmica de rendimento de cada Fiagro”.
Mitigação dos riscos do agro
Para Grahl, a experiência como diretor de Crédito para Brasil e América do Sul na Cargill foi fundamental para trabalhar, atualmente, na mitigação de riscos do VGIA11.
“O agronegócio não oferece apenas o risco climático. Há também o risco do câmbio, da commodity e de crédito. É necessário ter uma dinâmica de avaliação do risco: mensurar, identificar e criar mecanismos para mitigá-lo, seja nas garantias ou no processo de crédito para escolher os nomes certos. É o feijão com arroz bem-feitinho”.
O gestor explica que este trabalho é a essência do que é feito em uma ‘trading company’ como a Cargill.
“Você gerencia riscos e crédito é um dos riscos”.
Próximos passos em terreno firme
O gestor do VGIA11 afirma que o grande ponto da emissão é a capacidade de gerar novas operações.
“É ruim se não houver horizonte para os recursos da operação porque o dinheiro fica parado na mão queimando”, brinca.
Grahl avalia que o segmento de Fiagro está em um processo de ‘ramp up’ – início de produção em uma indústria – mas novas operações do VGIA11 vão depender da receptividade do mercado.
“Serão passos em terreno firme com a certeza de fazer algo de longo prazo, que é a visão do fundo. Há potencial de muita gente querendo entrar neste tipo de ferramenta. Por isso, é importante você ter lastro na outra ponta da geração de operações sem sacrificar o rendimento para crescer a qualquer custo e rápido. É um passo após o outro”, conclui.