Chegar e trabalhar: O aumento da demanda por imóveis plug and play
Para cortar custos e diminuir o tempo das mudanças, empresas tem optado por ativos já mobiliados

Mudanças sempre geram apreensão. Muitos executivos já ficam preocupados só de imaginar transferir suas operações para um novo espaço corporativo. Obras, mobília, organização da disposição do escritório e deslocamento de equipamentos são sinônimos de dor de cabeça. Além disso, os recursos utilizados para viabilizar uma mudança poderiam estar sendo alocados em outras áreas com finalidade produtiva, o que acaba minando a operação e os esforços da empresa. Mas não precisa ser sempre assim: o mercado também possui imóveis plug and play!

Espere, conectar e jogar? Quase isso... O conceito desses imóveis tem base na eficiência e na velocidade do processo de mudança, sendo tão simples quanto "plugar um videogame na tomada e simplesmente começar a jogar", sem muito trabalho, processos ou burocracia. No mercado imobiliário, isso se aplica da seguinte forma: os ativos já estão mobiliados, cabeados, com ar-condicionado, iluminação e muitas vezes até internet ativa. O que resta ao inquilino é basicamente chegar e trabalhar.
Com o avanço do modelo de trabalho híbrido, consolidado durante a pandemia, as empresas têm buscado cada vez mais escritórios flexíveis, que permitam o revezamento presencial das equipes e layouts adaptados para salas de reunião e espaços de convivência. Nesse contexto, o plug and play se mostra altamente compatível, tornando-se rapidamente uma tendência de mercado.
Vale lembrar a diferença entre os modelos plug and play e turn key, conceitos parecidos, mas não idênticos. No plug and play, o imóvel é entregue pronto para uso, podendo ser integrado rapidamente aos equipamentos que a empresa já possui, sem necessidade de configurações complexas ou alterações significativas. Já no turn key, o imóvel é desenvolvido 100% a partir de um projeto personalizado pela empresa, abrangendo preferências, layout, móveis e demais detalhes, de modo que, ao ser entregue, basta "virar a chave" e começar a usar. Em resumo: enquanto o primeiro destaca a facilidade de instalação e início imediato, o segundo foca na personalização e na entrega completa do espaço conforme os interesses da empresa. Em ambos os casos, a operação começa de forma imediata; porém, no plug and play a empresa se adapta ao espaço, enquanto no turn key o espaço é feito para se adaptar à empresa.
Praticidade e Personalização
É evidente a praticidade de um modelo plug and play, mas em casos de grandes empresas, não haveria perda no nível de personalização do escritório? Como isso se equilibra frente à liquidez do ativo?
"Um andar mobiliado com certeza tem mais liquidez do que um open space hoje em dia (...), mas a dinâmica é: quanto menor o escritório, menos obras a empresa quer fazer. Empresas pequenas tendem a buscar escritórios com um layout pronto e fácil de ocupar. Agora multinacionais, grandes empresas, vão querer deixar o espaço com a cara da companhia, nesse caso um turn key funciona melhor", disse Marcello Yudi Okuyama, gerente comercial da SYN.
Liquidez e agilidade
Sócio-diretor da CH3, Lourenço Chohfi Neto
Em entrevista à SiiLA, o sócio-diretor da CH3, Lourenço Chohfi Neto, relatou o aumento na busca por espaços plug and play, tanto para evitar custos com CAPEX quanto pela dinamicidade do pós-pandemia e os modelos de trabalho híbrido. Na visão da CH3, o conceito no mercado de alto padrão é definido da seguinte forma: "O ocupante recebe um espaço conceitual, moderno e atualizado com as melhores tendências em espaços de trabalho, além da personalização. Essa preferência acelera decisões e valoriza os empreendimentos".
Entre os desafios para implementar esse modelo está a necessidade de manter o ativo atrativo para diferentes tipos de ocupantes, preservando o mesmo nível de qualidade e alinhando soluções sem grandes intervenções no imóvel. Além disso, observa-se uma mudança cultural por parte dos clientes em relação à desmobilização: "Antes era comum a solicitação de desmobilização, mas hoje vemos o movimento contrário: proprietários e ocupantes que preferem manter os espaços prontos, entendendo que isso aumenta a liquidez do ativo e gera vantagem competitiva frente a outros imóveis no mercado".
De acordo com Chohfi, esses espaços prontos não só garantem maior liquidez ao imóvel como também reduzem o tempo de negociação e ocupação. Mas o custo de entregar os empreendimentos prontos, equipados e mobiliados é recuperado na negociação? "Há valorização. Normalmente, esses espaços alcançam valores mais altos, sem necessidade de carência, e muitas vezes contam com cláusulas de permanência mínima. Isso mostra que o mercado reconhece e remunera o diferencial do modelo."
Ao analisar o futuro do mercado brasileiro, o sócio-diretor vê a consolidação do plug and play, com expansão de atuação para além de escritórios, atingindo shoppings e galpões logísticos: "Observamos esse movimento, por exemplo, em shoppings, os empreendedores oferecem incentivos financeiros para que o lojista execute a obra, ao invés de entregar a loja crua. Essa lógica pode se expandir para outros segmentos também (...) não se trata de uma tendência passageira, o Plug and Play veio para ficar e tende a se consolidar, especialmente no segmento corporativo de alto padrão."
Implementação do Plug and Play
CEO da Regus & Spaces no Brasil,Tiago Alves
Para Tiago Alves, CEO da Regus & Spaces no Brasil, os espaços de coworking são o plug and play em sua forma mais pura: "O coworking é o verdadeiro plug and play: você assina um contrato e começa a trabalhar no mesmo dia. Em um imóvel tradicional, mesmo pronto, você ainda precisaria de internet, energia e burocracias, o que leva semanas. Aqui não, já está tudo incluso."
"Não há investimento inicial, é imediato e flexível no prazo. Você pode ficar um mês, seis meses, dois anos, ou renovar mensalmente. Além disso, temos estoque de mobiliário e estrutura para customizar rápido. Se o cliente quer mudar layout, abrir paredes ou trocar mesas, conseguimos adaptar em poucos dias ou até da noite para o dia. Esse é o diferencial", completou Alves.
Esses fatores atraem muitas empresas que buscam uma mudança mais ágil, além de companhias estrangeiras que estão em fase inicial no Brasil e precisam de modelos de escritório que poupem esforços e recursos até desenvolverem suas operações. Mas, será que futuramente o plug and play pode ser visto como uma alterativa definitiva?
"Diversas startups internacionais, como Uber, LinkedIn, Google e Microsoft, começaram suas operações no Brasil através da Regus, com esse modelo plug and play (...) Antes de 2019, muitas dessas companhias usavam coworking apenas como etapa inicial. A pandemia mudou isso: grandes empresas perceberam a vantagem da flexibilidade, da ausência de investimentos altos e da redução de riscos contratuais. Hoje mais de 65% dos nossos clientes são grandes empresas. O coworking passou a ser uma opção principal, não apenas temporária. Um desses exemplos é a Petrobras.
Além disso, o modelo híbrido impulsiona a descentralização: “empresas querem hubs regionais, não mais apenas um escritório central na Faria Lima, por exemplo. Esse movimento só é possível com plug and play."
Diante desse cenário, a taxa de retenção também cresceu. Tiago afirma que 75% dos clientes permanecem no modelo ágil, contra menos de 60% há cinco anos, e esclarece que o giro de 25% é saudável para renovação e diversidade de empresas dentro das unidades.
Por fim, ele traz um dado interessante: "Até hoje, as salas de reunião representam cerca de 10% da receita mundial". Essa informação evidencia que as salas de reunião continuam sendo um dos amenities mais rentáveis, mesmo no modelo plug and play e apesar da evolução das reuniões para plataformas online como Zoom, Teams e Google Meet.