Governo autoriza venda da UFRJ no prédio com o maior Valor de Mercado do Centro do Rio
Lajes de propriedade da Universidade tem potencial de gerar mais de R$ 2 milhões por mês em receita

O Rio de Janeiro não vê um novo empreendimento de alto padrão (Classes A+ e A) desde 2018. Com um estoque atual de torres A+ e A em 1.866.633 m², e uma taxa de vacância elevada - hoje em 27,83% - o mercado corporativo da cidade atravessa um momento de estagnação. A maior parte desse estoque se concentra no Centro do Rio, que sozinho representa mais de 900 mil m² de áreas corporativas.
Nesse contexto, ganha relevância a decisão do governo federal de autorizar a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a vender sua participação no Ventura Corporate Towers - o ativo corporativo de maior valor de mercado do Centro do Rio de Janeiro, segundo dados da SiiLA. Em nota ao Resource, a universidade afirma que todo o processo está dentro das exigências da legislação da gestão do patrimônio das universidades federais.
"Durante os últimos meses, a equipe da Universidade trabalhou em questões técnicas que envolvem a licitação, na preparação documentos e em análises técnicas e jurídicas. A partir da publicação do decreto, cabe à equipe da UFRJ, em colaboração com o BNDES, que tem dado suporte nesse processo, preparar os documentos licitatórios contendo todas as informações necessárias para subsidiar o processo de leilão. O imóvel permanece sob posse da UFRJ até a conclusão de todas as etapas necessárias para sua alienação", afirma em nota.
O ativo
Foto: Divulgação
Localizado na Avenida República do Chile, o Ventura é um dos empreendimentos mais famosos do centro financeiro carioca. Inaugurado em 2010, o complexo é composto por duas torres de padrão A+, com áreas de 47,3 mil m2 e 46,9 mil m2, respectivamente. Abriga hoje a sede de grandes inquilinos como Shell, Banco do Brasil, Ipiranga, BAT, Prudential do Brasil e Allianz. A propriedade é compartilhada entre a UFRJ e a gestora Brookfield. Com a nova autorização, a universidade poderá vender os sete andares que detém na Torre Oeste e os cinco andares na Torre Leste, somando cerca de 15.488 m2 de área corporativa de alto padrão. Por se tratar de um bem público, a alienação deverá ocorrer por meio de licitação, e os recursos arrecadados deverão obrigatoriamente ser investidos em infraestrutura física ou usados para custeio de despesas da universidade.
Receita frustrada e novo potencial
A participação da UFRJ no Ventura surgiu como contrapartida pela cessão do terreno onde o empreendimento foi erguido. A expectativa era gerar receita recorrente para a universidade - objetivo que, na prática, não foi concretizado. Atualmente, a maior parte da área vaga nas torres pertence justamente à UFRJ, impactando negativamente a taxa de ocupação geral do ativo, hoje em 73,8%.
Segundo a SiiLA, o valor de mercado de locação do Ventura é de R$ 141,63/m², e o portfólio da universidade no complexo tem potencial de gerar mais de R$ 2 milhões por mês em receita, caso completamente ocupado.
O movimento de venda tem atraído o interesse de potenciais compradores - entre eles, a Brookfield pode ser uma das interessadas, já que a empresa já possui o restante das lajes no empreendimento. Embora não haja confirmação oficial, a gestora é apontada como uma das principais interessadas na aquisição. A empresa, inclusive, também vem sendo associada a outro ativo estratégico da cidade, o AQWA Corporate.
Crise institucional
A decisão da UFRJ de colocar sua parte à venda ocorre em meio a uma grave crise orçamentária. A instituição acumula uma dívida de R$ 61 milhões, dos quais R$ 26,1 milhões referem-se apenas ao fornecimento de energia elétrica.
O impacto no cotidiano universitário tem sido direto. Em abril, funcionários terceirizados do restaurante universitário — o tradicional Bandejão - entraram em greve por conta de atrasos salariais. Houve também relatos de infraestrutura precária, como azulejos caindo, elevadores interditados e falta de vestiários, além do adiamento de formaturas.
Diante desse cenário, a venda do Ventura aparece como uma das poucas medidas emergenciais com potencial de aliviar as finanças da universidade. Até o fechamento desta reportagem, a UFRJ não se pronunciou oficialmente sobre o cronograma da licitação.