Ata do Copom reforça restrição por período prolongado
No entanto, colegiado reconhece moderação da atividade e inflação
Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou o desconforto com a desancoragem das expectativas inflacionárias, o que exigiria uma maior restrição monetária por tempo prolongado. O documento não sinalizou futuros cortes e trouxe detalhes sobre a discussão que ocorreu na reunião da semana passada, quando o colegiado decidiu manter a Selic em 15% ao ano, conforme esperado pelo mercado. A ata indicou que há maior convicção de que a taxa atual é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta, diante da moderação na atividade econômica.
“As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes seguiram trajetória de declínio, mas permanecem acima da meta de inflação em todos os horizontes. A queda das expectativas segue mais concentrada nos horizontes mais curtos, mas observou-se movimento agora mais nítido em horizontes além do relevante”, ressaltou o documento.
Cenário doméstico e externo
Assim como no comunicado, a ata apontou que o ambiente externo segue incerto devido à política econômica nos Estados Unidos e tensões geopolíticas, o que exige cautela dos países emergentes. Enquanto isso, no mercado doméstico, a ata destaca a trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, apesar do dinamismo no mercado de trabalho.
Apesar da moderação gradual da atividade, redução na inflação corrente e nas expectativas inflacionárias, o colegiado destacou que vai atuar para levar a inflação à meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no horizonte relevante. Assim, seguirá “vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado”.
Visão de analistas
Futuras elevações na Selic não foram descartadas na ata, mas o documento afasta possibilidades de aumento nos juros, na avaliação de Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez. “A demanda segue sendo o desafio para desacelerar a atividade, pois inflação de serviços ainda vem resiliente por conta do mercado de trabalho, que dá sinais de desaceleração, mas são sinais ainda tímidos”, ressaltou em nota ao mercado.
“Avaliamos a ata como neutra, mas com uma pitada dovish, visto que o BC ainda mantém uma comunicação relativamente rígida, embora tenha esmorecido em pontos mais hawkish”, entende Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa. “Prospectivamente, avaliamos que o BC iniciou um processo de esmorecimento da comunicação, que está altamente dependente do que será exposto na reunião de dezembro para determinar quando se dará o início do afrouxamento e sua velocidade”, completa.
A percepção de Leandro Manzoni, analista de economia e editor-chefe do Investing.com Brasil, é de que a ata do foi mais dovish do que o comunicado, mas manteve a estratégia de proteção de Copom para um eventual adiamento do corte. “O mercado deve realizar uma leitura de corte da taxa Selic provavelmente ocorrendo em janeiro”.