Tarifaço dos EUA x FIIs e Fiagros: Como anúncio pode afetar os mercados?
Fundos Imobiliários têm tem demonstrado resiliência diante de pressões inflacionárias, segundo o Clube FII

Com o anúncio do presidente dos Estados Unidos Donald Trump de que pretende taxar em 50% produtos brasileiros, especialistas consultados pelo Clube FII News entendem que o aumento de impostos e a possível retaliação por parte do Brasil podem afetar o dólar, a inflação e trazer incertezas ao mercado, incluindo nos Fundos Imobiliários (FIIs) e nos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros). No entanto, apesar de possível volatilidade, os FIIs têm demonstrado resiliência mesmo diante de pressões inflacionárias, esclarece o Clube FII. Às 14h30 (de Brasília), o Índice de Fundos Imobiliários (IFIX) recuava 0,30%, a 3.472,18 pontos.

Nesta quarta, Trump informou, por meio de uma carta enviada ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que as novas taxas devem valer a partir de 1º de agosto – o que representa um aumento significativo frente às tarifas de 10% impostas anteriormente pelo republicano. No documento, foram mencionados motivos políticos e econômicos, incluindo o processo criminal que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) e a alegação de que haveria um déficit comercial dos EUA em relação ao Brasil, ainda que o país tenha registrado excedente no comércio de bens em 2024.
Taxação x FIIs e Fiagros
Ainda é muito cedo para estimar o impacto desse anúncio, mas caso haja resposta do governo brasileiro, novas taxas devem pressionar a inflação, ressalta Rodrigo Cardoso de Castro, sócio-fundador do Clube FII. “Trump está repetindo a velha coreografia de ameaçar com tarifas, aplica parcialmente e depois usa isso como moeda de troca para arrancar concessões. Foi assim com a China, é parte do jogo de intimidação geopolítica dele. O problema é que, se o Brasil cair na armadilha e responder com taxação, quem vai pagar a conta é o brasileiro comum. Essa guerra de tarifas é, na prática, uma guerra de vaidades políticas travada às custas de mais inflação”, destaca Cardoso, ao afirmar que governo brasileiro “deveria ter a lucidez de não aumentar ainda mais o peso sobre o consumidor, já sufocado por um Estado caro e ineficiente.”
Do ponto de vista dos investimentos, a percepção de Cardoso é de que o mercado de Fundos Imobiliários tem demonstrado resiliência diante de pressões inflacionárias. “Fundos de CRIs tendem a proteger melhor o investidor nesse cenário, por serem indexados e reagirem com mais agilidade. Já os fundos de tijolo, embora reajam mais lentamente, historicamente preservam valor real no longo prazo”, detalha.
Isabella Almeida, gestora de fundos imobiliários da Rio Bravo, também entende que o anúncio tem gerado uma piora na percepção de risco dos ativos domésticos, pois a economia brasileira poderá sofrer maiores pressões inflacionárias. Isso tem refletido na abertura da curva de juros real, levando a oscilações no mercado.
“A performance dos fundos imobiliários está muito ligada à abertura ou ao fechamento da NTN-B longa, porque o investidor exige um prêmio de risco para investir em FIIs. Com um cenário ainda incerto sobre as tarifas, diante de possíveis retaliações ou negociações, os fundos imobiliários podem apresentar volatilidade no mercado secundário”, ressalta Almeida.
A gestora indica, neste momento, que os investidores operem com cautela. “Diante de uma maior volatilidade, podem surgir oportunidades de compra nos fundos que possuem bons fundamentos e ativos de qualidade, que na maioria dos casos já estão negociando com um desconto expressivo frente ao valor patrimonial”, completa a especialista da Rio Bravo.
Leandro Manzoni, economista e editor-chefe do Investing.com Brasil, explica os principais mecanismos de transmissão. Os impactos nos FIIs e Fiagros são mais indiretos do que diretos, sendo mais específicos a um determinado ativo, o que requer uma análise, por parte do investidor, da exposição dos fundos às exportações que vão sofrer com essas tarifas.
Os impactos indiretos ocorreriam de duas formas: “O primeiro é macroeconômico. O dólar subiu, que é uma medida de proteção dos investidores, porque eles não sabem o que vai acontecer, se o Trump pode recuar ou o Brasil retaliar e virar uma guerra tarifária entre os dois países”. Além disso, com a alta do dólar e pressão na curva de juros, uma calibragem no valuation dos ativos tenderia a uma queda nas cotas dos FIIs, em sua visão.
Os efeitos também podem ser setoriais, considerando impactos específicos nas diversas classes de ativos. “Nos Fiagros, é preciso ficar atento às exportações que podem ter um impacto. No caso das exportações do Brasil para os Estados Unidos, são o suco de laranja e talvez o café. É preciso avaliar se os Fiagros estão expostos a fazendas ou grandes propriedades que estejam com esse tipo de plantação, cujo principal cliente são os Estados Unidos”. No caso dos FIIs, eventuais repercussões por parte de empresas exportadoras que alugam galpões de grande porte para venda de seus produtos ao mercado americano, como a Weg, também devem ser monitoradas, no seu entendimento,
Mesmo com o mercado mais cauteloso no curto prazo, os FIIs têm demonstrado resiliência no longo prazo e são uma forma de proteção contra a inflação, conforme explicado em conteúdo do Clube FII Research em vídeo divulgado nesta semana. Para descobrir as melhores oportunidades, tenha acesso às carteiras completas do Clube FII.