Cotistas do HGPO11 decidem manter imóveis e FII ativo em votação tumultuada
Assembleia geral extraordinária de cotistas do Fundo Imobiliário CSHG Prime Offices quase termina em confusão com resultado que deve ser confirmado, de fato, após análise do órgão regulador
Rivalidade, ânimos exaltados, contestação do sistema de voto e pedido de revisão do resultado do pleito.
Se você achou que trata-se das eleições 2022 no Brasil, está enganado. Tudo isso aconteceu em uma assembleia de cotistas de um Fundo Imobiliário.
Faltou pouco para os participantes da tão aguardada assembleia geral extraordinária (AGE) do FII CSHG Prime Offices chegarem às vias de fato, ou seja, partirem para a briga.
A tensão da votação foi descrita na ata da votação publicada para conhecimento de todo o mercado.
Em questão, a decisão de venda dos dois únicos ativos do fundo, os edifícios Metropolitan e Platinum, ambos no bairro Jardim Europa - área nobre da capital paulista - por R$ 37 mil o metro quadrado. E com a venda dos ativos, a consequente liquidação do FII.
Para apimentar o pleito, uma nova regra do regulador Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre os cotistas solicitantes da AGE – detentores de mais de 5% das cotas do fundo – terem os nomes divulgados durante o processo.
Além de ampliar o caráter democrático da assembleia, a transparência no processo despertou também fortes rivalidades entre os pró e os contra a venda dos imóveis pelo preço sugerido.
Os rivais declarados na AGE
Do lado em favor da venda, os solicitantes da assembleia pessoas físicas Edilson Braga e Edgar Boicenco, além dos fundos JS Real Estate Multigestão (JSRE11) e JS Ativos Financeiros (JSAF11), da gestora Safra Asset.
Entre os integrantes da oposição declarada, a gestora RBR Asset.
Na condução da AGE, um representante do administrador do HGPO11, o CSHG do banco Credit Suisse, além de Boicenco na função de presidente da assembleia.
Eles apresentaram o resultado apertado da AGE: 32,85% de votos contrários e 32,53% favoráveis à venda dos prédios e o fim do FII.
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A confusão foi imediata.
Augusto Martins, responsável pela área de Mercado Imobiliário do Credit Suisse, foi chamado para dar explicações sobre todo o processo.
Mesmo assim, Tiago Reis, CEO da Suno e cotista do HGPO11, criticou o processo conduzido pela administradora.
Até a diretora da Compliance do banco, Gabriela Metz Brea, foi chamada para dar esclarecimentos.
Boicenco solicitou uma conferência dos votos e Martins sugeriu o encerramento da AGE. Após grande discussão, houve a suspensão temporária da assembleia.
O momento de maior tensão da AGE
Antes da suspensão da assemblea, uma atitude inesperada. Um cotista ‘furou o protocolo’ a AGE e tirou foto de um dos votos que era visualizado pelos dirigentes da sessão.
Controlada a situação, o cotista que não teve o nome informado na ata da assembleia se comprometeu a apagar o registro do celular.
Qual é o futuro do HGPO11?
Após o período de suspensão da AGE e retorno da sessão, Boicenco anunciou a renúncia à função de presidente da assembleia por discordar do método usado pelo administrador para a votação.
Ele alegou que deveriam ter sido computados apenas os votos eletrônicos recebidos até 21 de outubro, conforme informado no formulário de voto eletrônico e comunicações eletrônicas do administrador aos cotistas.
A CSHG esclareceu que não houve qualquer voto enviado por cotistas clientes da plataforma do private banking do Credit Suisse após o dia 21 de outubro.
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A administradora informou também que, caso os votos recebidos após 21 de outubro sejam desconsiderados, os percentuais da AGE passariam a 32,37% de votos favoráveis e 30,88% de votos contrários, ou seja, representariam a venda dos prédios e liquidação do HGPO11.
Além disso, a CSHG afirmou que vai consultar a CVM de maneira voluntária sobre os questionamentos em relação aos votos eletrônicos recebidos após o dia 21 de outubro.
Os representantes dos cotistas, entre eles Boicenco, solicitaram à CSHG a disponibilização dos documentos do fundo ao possível comprador dos imóveis, de forma a agilizar o processo de venda. O procedimento seria feito de maneira independente do resultado da AGE, sem a obrigação de venda vinculante ou custos ao HGPO11.
A reportagem do Clube FII News procurou Edgar Boicenco e a gestão dos fundos JSRE11 e JSAF11 da Safra Asset.
Até o momento da publicação, Boicenco não havia dado retorno.
Na opinião de Bruno Nardo, sócio e gestor de ativos líquidos da RBR Asset, a discussão será entre forma - data limite prevista na convocação que era dia 21 - e conteúdo – o que é fato de cotistas válidos do fundo terem se manifestado nos dias 22, 23 e 24.
"Acho que o grande ponto é a análise da questão pela CVM como juiz, apesar de trazer uma imprevisibilidade de tempo de resposta", afirma.