Conversão de escritórios antigos em moradia avança nas capitais
Empreendimentos são transformados em residenciais como resposta à vacância, à pandemia e à mudança no uso das cidades

A transformação de prédios corporativos em residenciais deixou de ser exceção e se consolida como uma estratégia recorrente nas principais capitais brasileiras. Nas últimas semanas, o edifício que por décadas abrigou a sede da Telefônica na Rua Bela Cintra, em São Paulo, foi vendido por R$ 255 milhões e deverá passar por uma conversão para uso habitacional - mais um capítulo de um movimento que vem redesenhando os centros urbanos.

Esse processo não é isolado. Como destacou Cláudio Hermolin, presidente do SINDUSCON-Rio, no último episódio do SiiLA PODCAST, a tendência já se mostra evidente no centro do Rio de Janeiro, onde empreendimentos históricos estão sendo adaptados para receber novos moradores, reforçando a vitalidade da região.
Um exemplo emblemático é o Edifício Mesbla, ícone art déco com torre-relógio de 100 metros, vendido em janeiro pela São Carlos por R$ 21,7 milhões à Inti Empreendimentos. O projeto de conversão, alinhado ao programa Reviver Centro da Prefeitura do Rio, busca atrair moradores e requalificar a área. A São Carlos, no entanto, manteve a propriedade das lojas no térreo.
A reconfiguração desses espaços é resposta direta à vacância persistente e ao envelhecimento dos prédios comerciais em regiões centrais de São Paulo e Rio. Dados do Market Analytics da SiiLA mostram que a taxa de vacância no centro paulistano cresce há quase uma década, cenário ainda mais acentuado no Rio. Ao mesmo tempo, cresce a demanda por moradia bem localizada, impulsionada por programas de incentivo público e pela busca de cidades mais dinâmicas e habitáveis.
Por: Siila
Após a venda dos ativos, os destinos podem ser diversos. Alguns prédios são demolidos para dar lugar a residenciais tradicionais; outros passam por retrofit e se transformam em empreendimentos multifamily - como no caso do Hotel Glória, adquirido pela Brookfield no Rio.
Em São Paulo, a Apê Smart tem multiplicado iniciativas desse tipo. Além da locação do Edifício Oscar Americano, na Avenida Paulista, em 2023, a empresa também adaptou outras unidades na região, incluindo o prédio localizado na Avenida Paulista, 7, um prédio, que quando o uso era voltado para escritórios era classificado como um Classe C, assim como uma torre na Rua Bela Cintra, 934, que também era classificada como C até ser convertida para o uso como moradia. A proposta da empresa, segundo o próprio site da companhia, é a oferta de studios para curta e média estadia.
Políticas de incentivo
Em São Paulo, o Requalifica Centro, criado em 2021, oferece incentivos fiscais e flexibilizações urbanísticas para prédios construídos até 1992, estimulando a conversão em moradias. O objetivo é ampliar a oferta habitacional e reverter o esvaziamento intensificado pela pandemia.
Já no Rio, o Reviver Centro adota uma abordagem mais ampla, combinando incentivos urbanísticos, culturais e sociais para atrair moradores, requalificar imóveis ociosos, criar áreas verdes e estimular a mobilidade sustentável.
Resposta urbana a uma nova realidade
Seja no Rio ou em São Paulo, a conversão de escritórios antigos em residências surge não apenas como uma alternativa para imóveis em desuso, mas também como resposta às transformações urbanas contemporâneas - da digitalização do trabalho à escassez de habitação acessível e ao desejo por cidades mais integradas.