Gestores de Fundos Imobiliários expostos à Americanas se reúnem na próxima semana
Reunião tem o objetivo de definir possíveis medidas conjuntas de mitigação de riscos, afirma diretor da gestora do GGRC11
Gestores de Fundos Imobiliários expostos ao risco de calote da Americanas participarão de um encontro previsto para a próxima segunda-feira (23) ou terça-feira (24) para discutir ações conjuntas com o objetivo de minimizar riscos de calote da varejista.
A informação foi confirmada por Diego Santos, sócio e diretor de Engenharia e Novos Negócios da Zagros Capital, gestora do fundo do segmento de imóveis logísticos GGR Covepi (GGRC11).
“Existe obviamente a concorrência entre os fundos, mas a gente entende que o nosso setor ainda está em crescimento e ainda não chegou ao ápice em número de investidores e fundos. Então, existe uma troca de informações muito grande entre gestores justamente para entender esses momentos mais turbulentos e encontrar os melhores caminhos a serem seguidos”.
Santos não descarta uma ação conjunta de Fundos Imobiliários em relação ao risco nos contratos de locação com a Americanas.
“O principal objetivo desse bate-papo entre gestores é tentar entender se coletivamente a gente seria mais forte nas possíveis ações a serem tomadas no futuro em relação à Americanas”.
Segundo levantamento da área de Research do Clube FII, pelo menos, nove FIIs estão expostos à Americanas: MAXR11, VLOL11, PVBI11, GGRC11, XPLG11, LVBI11, BRCO11, VIUR11, RBRL11 e HGLG11.
O risco passou a ser maior após a justiça ter acatado o pedido de recuperação judicial da varejista nesta quinta-feira (19).
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Dentro de um processo de recuperação judicial, se o juiz entender que o imóvel é fundamental para a atividade da empresa e o sucesso do plano proposto para a recuperação da saúde financeira, ele pode permitir a permanência desta locatária mesmo em caso de inadimplência durante a toda a ação.
Um processo de recuperação judicial de uma empresa de grande porte pode durar, no mínimo, quatro anos, segundo especialistas.
No caso do fundo GGRC11, a Americanas representa 19% da receita por meio da locação de um galpão logístico em Uberlândia, Minas Gerais.
Atualmente, galpão de Uberlândia (MG) alugado para Americanas é de propriedade de dois Fundos Imobiliários: 80% pertencem ao GGRC11 e 20% são do HGLG11 (Foto: Divulgação - Zagros Capital)
O imóvel tem 90 mil metros quadrados e, no momento, ainda está em processo de aquisição pelo GGRC11 de outro fundo, o CSHG Logística (HGLG11).
Até a quitação da transação no total de R$ 253 milhões com a última parcela no final de março de 2023, a proporção de propriedade do imóvel é de 80% pertencentes ao GGRC11 e 20% ao HGLG11.
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Segundo Ana Caroline Reis, sócia e diretora jurídica e de Compliance da Zagros, o HGLG11 é o atual locador. Portanto, a exposição do GGRC11 é indireta.
“Somos compromissários compradores e recebemos receita de locação. Em caso de inadimplência, quem tem o direito de executar ainda é o HGLG11 e o GGRC11 tem o direito de receber as indenizações”.
O GGRC11 só poderá agir junto à locatária Americanas após o pagamento da última parcela de R$ 51,5 milhões ao HGLG11, quando deterá 100% do imóvel.
“Mesmo antes desse último pagamento, qualquer atitude será de comum acordo entre os dois fundos”.
Quanto cai o dividendo do cotista em caso de inadimplência da Americanas?
O valor do dividendo mensal pago pelo GGRC11 aos cotistas não tem uma regularidade. A última distribuição foi de R$ 0,95 por cota referente a dezembro, paga em 9 de janeiro.
Se este valor for tomado como base, uma eventual inadimplência da Americanas representaria uma redução de 19%, ou seja, de R$ 0,18 na cota. O total cairia para R$ 0,77 por cota para os mais de 100 mil cotistas do fundo.
Galpão em Uberlândia (MG) com 90 mil metros quadrados dos Fundos Imobiliários HGLG11 e GGRC11 alugado para a Americanas (Foto: Divulgação - Zagros Capital)
O galpão de Uberlândia representa o principal ativo da carteira do fundo, com peso de 24,25% no portfólio.
No entanto, a carteira é pulverizada com a presença de 18 imóveis ao todo em diferentes regiões brasileiras.
O risco de Americanas inadimplente durante a recuperação judicial
De acordo com Diego Santos, a operação da Americanas no galpão de Uberlândia atende um total de 12 estados, mas não se trata da unidade mais estratégica para a varejista.
Ele estima que a companhia ocupe até 12 galpões distribuídos pelo país, muitos deles pertencentes a outros Fundos Imobiliários.
Operação da Americanas em galpão de Uberlândia (MG) atende um total de 12 estados, segundo Fundo Imobiliário GGRC11 (Foto: Divulgação - Zagros Capital)
“Trata-se do quinto imóvel com a maior operação da Americanas no Brasil”.
O fato do galpão de Uberlândia não ser estratégico para a varejista é avaliado pela área jurídica da Zagros como ponto favorável que afasta a possibilidade de um juiz determinar uma eventual permanência no local durante todo o processo de recuperação judicial mesmo em situação de inadimplência, de acordo com Ana Caroline Reis.
“A Americanas está adimplente com o fundo nos seus contratos de locação. Então, não existe um crédito habilitado para ir para uma recuperação judicial”.
Em um cenário da empresa ficar inadimplente após o início do processo de recuperação judicial, a lei determina que uma ação de despejo é um direito ilíquido, segundo Reis.
“Direitos ilíquidos não são suspendidos. Dentro de um cenário de inadimplência, o fundo poderia esperar as moras previstas no contrato e, em seguida, entrar com ação de execução para vencer antecipadamente o contrato”.
Reis explica que a justiça costuma determinar a permanência do inquilino em recuperação judicial inadimplente no imóvel apenas quando se trata do único local de operação dele.
“O imóvel precisa ser considerado essencial para que a empresa se recupere”, conclui.