As mulheres e o mercado FII
O Dia Internacional das Mulheres é uma data de reflexão e o Clube FII News apurou como está a presença feminina entre os investidores e também nos cargos de liderança do mercado de Fundos Imobiliários
Mais que um dia para enviar flores ou recados gentis às mulheres, o dia 8 de março é uma data para reflexão. Como o segmento em que você atua ou no qual você investe está em relação à presença de mulheres? Há representatividade que de fato retrate uma população com ligeira maioria feminina?
Nos últimos anos, as mulheres passaram a se interessar mais por investimentos e a trabalhar no mercado financeiro, inclusive no setor de Fundos Imobiliários. Mas os números ainda são tímidos.
De acordo com um levantamento feito pela plataforma Clube FII em julho de 2021, apenas 6% do total de investidores da indústria FII eram mulheres. Um resultado reduzido durante a pandemia. Em fevereiro de 2020, o percentual era de 11%.
Quando olhamos para os números da presença feminina nos cargos de liderança no mercado financeiro, os números também revelam pouca representatividade.
De acordo com a Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, há 10% de mulheres na alta liderança das instituições.
Entre os profissionais com CGA, a Certificação de Gestores de Carteiras da Anbima, apenas 6% são do sexo feminino.
Mulheres perseverantes e resilientes. Vozes femininas que são ouvidas, respeitadas e seguidas pelos colegas.
Mulher gestora de FII
Camila Almeida, gestora do fundo Habitat Recebíveis Pulverizados (HABT11), chega a ser aguardada por integrantes da plateia para conversas e conselhos após participações em debates de eventos do mercado FII.
“Vejo que o número de mulheres atuando profissionalmente na gestão é crescente, porém ainda há um gap muito grande. Em eventos do setor, muitas vezes, sou uma das únicas mulheres participando de painéis – quando não a única”.
A gestora diz que cabe à mulher líder atuar para abrir caminho a mais colegas.
“Creio que faça parte do papel das mulheres em cargos de liderança no mercado financeiro trabalhar para aumentar a representatividade feminina no setor. Na Habitat, por exemplo, 45% da equipe é formada por mulheres”.
Mulher à frente do RI de FII
Sócia e responsável pela área de Relações com Investidores do Fundo Imobiliário BlueMacaw Renda FoF (BLMR11), Celina Vaz Guimarães percebe uma mudança gradual na proporção entre homens e mulheres últimos 5 a 10 anos.
“Hoje em dia, eu tenho o prazer de conviver com muitas mulheres em cargos de liderança, tanto em gestoras, como em empresas ligadas ao setor imobiliário e de investimentos imobiliários”.
Celina conta que vê uma maior unidade entre as mulheres hoje no mercado do que havia antes.
“Criamos uma rede de apoio mais efetiva, uma troca maior de experiências negativas e positivas que busca, através destas reflexões e trocas, abrir o caminho para que mais mulheres tenham oportunidades iguais e, assim, possam contribuir de maneira efetiva com suas ideias e inovações”.
Na BlueMacaw, 50% dos sócios são mulheres.
“O equilíbrio entre homens e mulheres em cargos de liderança virá com o tempo, muito trabalho, muita informação e ações afirmativas que combatam qualquer tipo de preconceito e promovam as oportunidades iguais para homens e mulheres, criando ambientes produtivos focados na inovação e no crescimento profissional de todos. A diversidade é essencial para o sucesso e a longevidade das empresas, em qualquer área de atuação”.
Mulher analista de FII
A analista de Real Estate e Fundos Imobiliários da XP Inc., Maria Fernanda Violatti, percorreu um longo caminho para sua formação em Economia e Engenharia Civil, chegando até a fazer estágio em canteiro de obras para entender a dinâmica e atuar no segmento FII.
“Nosso mercado é muito masculinizado e que tem a maior parte dos gestores homens e, quando vejo algumas gestoras mulheres, realmente me sinto muito feliz”.
Maria Fernanda lembra que existem até Fiagros – Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais – com mulheres na gestão.
“Existe até um estudo do Goldman Sachs que aponta fundos geridos por mulheres como mais rentáveis do que os fundos sob a gestão de homens. O que falta é o mercado entender essas possibilidades e colocar mulheres em cargos de liderança para que elas tenham cada vez mais representatividade e maior papel enquanto gestoras de fundos”.
Mulheres juntas na gestão de um FII
O Quasar Crédito (QAMI11) nasceu em abril de 2021 com uma característica que poderia ser mais comum no mercado: a gestão é exclusivamente feita por mulheres. Atualmente, Sofia Caccuri e Cristina Tamaso dividem a tarefa de conduzir o FII com portfólio de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), ou seja, trata-se de um fundo de papel.
Atualmente, o fundo tem 1.093 cotistas. Um número que aumentou ao longo do ano passado, segundo Cristina.
“Os cotistas valorizam a nossa diligência e detalhamento nos relatórios e isso resulta no aumento do número de investidores. Nunca fomos preteridas pelo fato de sermos mulheres porque o mercado está aberto para ouvir a nossa opinião”, afirma.
Sofia, co-gestora do QAMI11, conta que a presença apenas de mulheres na gestão do FII foi uma coincidência que acabou dando certo.
De fato, enquanto muitos Fundos Imobiliários lutam por rentabilidade em um cenário econômico difícil, o QAMI11 consegue um valor de mercado de R$ 76,9 milhões, enquanto possui valor patrimonial de R$ 72 milhões.
“A pluralidade dos pontos de vista na gestão é uma característica que, no final, torna os resultados do fundo interessantes”, conclui Sofia.